A mim só me resta saber quem é que se encontra no direito de determinar "oficialmente" o valor justo a pagar por um determinado trabalho.
Sinceramente, gostaria muito de poder desenhar um "A" e vendê-lo a mil euros, mas a verdade é que não posso censurar ninguém por ter um grau de ambição abaixo ou acima do meu, assim como não posso censurar quem, por necessidade, procure recorrer a um serviço que vá ao encontro das suas possibilidades.
Há muita gente disposta a ganhar pouco, assim como há muita gente que tem padrões demasiado elevados. No final de tudo, pouco ou nada há a fazer em relação a isso, pois nem todos temos que partilhar da mesma visão em relação às coisas. E mais uma vez, ainda estou para saber quem é que se encontra no direito de determinar de que lado está a razão.
Eu não posso pagar 300 euros por um bom logo, nem tenho tempo para eu mesmo o produzir. E agora? Será que não é positivo haver uma alternativa àqueles idealizaram o seu trabalho como tendo um valor correspondente a largas centenas de euros?
Óbvio que a qualidade do trabalho das pessoas que aqui estão sendo criticadas é, muitas vezes, discutível. No entanto, também o daquelas que largas quantias cobram pelo que fazem o é. Nem tudo o que custa 300 é bom, e nem tudo o que custa 40 é mau, e isto aqui é uma verdade absoluta, contra a qual não há contra-argumentação possível.
Então e se eu pagar 30 euros por um logo, e o mesmo revelar-se inferior aos disponibilizados por quem cobra valores mais elevados? Não será isso um problema só meu? Não é ao cliente que cabe determinar o que é ou não aceitável para o seu projecto? A mim parece-me que esse é um problema que só diz respeito a quem produz o trabalho e a quem paga por ele.
Quem me dera poder ganhar milhares e milhares de euros com o que faço, mas há muito que aprendi que as coisas não podem ser como eu gostaria que fossem, e é com isso que tenho que aprender a viver. Isto é uma autêntica Selva, e a lei do salve-se quem puder é predominante. A culpa não é do Zé, nem do Joaquim, nem do António, mas sim da Humanidade, e nada há a fazer em relação a isso.
As pessoas têm necessidades e possibilidades diferentes, e é por isso que é bom que esta enorme divergência entre padrões de oferta de serviços continue a existir. Se todos cobrassem 400 euros por um logo, só um determinado tipo de cliente poderia usufruir do mesmo, e só um determinado tipo de profissional poderia lucrar com esta actividade.
É preciso valorizar o trabalho das pessoas, mas também é preciso respeitar a liberdade de escolha de cada um, em vez de tentar, forçosamente, impingir as nossas ideologias profissionais aos outros.
Eu preciso de uma t-shirt, e aqui na minha zona tenho 5 lojas que as vendem. A loja mais cara vende t shirts a 45 euros, e a mais barata vende t-shirts a 6 euros. Não é bom ter a possibilidade de olhar, avaliar, e decidir qual delas se adequa mais àquilo que eu procuro adquirir? Eu acho que é.
Eu quero vender o meu serviço a 50 euros, mas amanhã aparece um rapaz a oferecer o mesmo serviço por 10 euros. Eu fico furioso, pois a minha condição de vida não me permite despender tempo na criação de um produto por menos de 50 euros. No entanto, o meu concorrente, seja lá porque razão for, já se pode dar a esse luxo. Que posso eu fazer? Chorar, por ele se encontrar numa situação de vida diferente da minha, e ter objectivos incompatíveis com os meus? Eu não posso fazer nada, a não ser aceitar tal como uma parte integrante da lei da vida.
Para acabar, este assunto chamou-me a atenção porque, há uns dias atrás, comprei 5 cartoons para inserir nos logos de uns sites que estou a criar, e paguei 100 euros pelos mesmos. Têm a mesma qualidade dos das empresas de topo? Não, não têm. Mas têm a qualidade necessária e pretendida para os projectos que estou a criar. E o melhor de tudo foi que me cobraram o preço que eu POSSO pagar. Portanto, como cliente, sinto-me contente por existir quem preste serviços deste tipo, por preços tão modestos. Como concorrente, certamente que me sentiria revoltado. No entanto, e até onde sei, revolta não é sinónimo de razão, e não é por não gostar do que alguém anda a fazer que passo a encontrar-me na posse da verdade absoluta.
Quando eu era pequenino, chorava muuuuuuuuuuuuuuito, quando não me davam o que eu queria, da forma como eu queria. Hoje sou grande, e aprendi a engolir muitos sapos.
Boa noite.