PODE SER A NOVA MICROSOFT OU UMA BOLHA À BEIRA DE REBENTAR
Todos os dias pelo menos 200 milhões de pessoas usam o Google. Mas a empresa Google é hoje em dia muito mais do que o motor de busca Google. A empresa criada por Sergei Brin e Larry Page desenvolveu uma série de serviços e aplicações para lá da pesquisa da Web, algumas inovadoras (como o Google Earth), outras versões transformadas de tecnologia já existente (como o GMail).
A expectativa em relação ao que a Google vai fazer a seguir é enorme. Os mercados financeiros especulam que, através de aquisições ou de lançamentos de novos produtos, a Google pode querer desafiar a Microsoft pelo controlo do mundo informático.
Mas quase tudo o que a Google faz é gratuito - essa é de resto uma das chaves do seu sucesso. As suas receitas dependem quase exclusivamente da publicidade. Como se justifica então que a sua capitalização de mercado ultrapasse os 74 mil milhões de euros - mais do que os três grandes construtores automóveis dos EUA juntos?
Uma coisa é certa: a Google tem muito dinheiro para gastar. Esta semana, anunciou a emissão de uma nova série de acções, através da qual irá angariar mais capital; analistas do banco de investimentos Merril Lynch estimam que a empresa californiana tem pelo menos 5800 milhões de euros para investir.
Investir no quê? Este mês, houve especulação de que a Google poderia adquirir a AOL (maior fornecedor de acesso à Internet dos EUA) ou a Reuters (a maior agência noticiosa e financeira do mundo).
A Google não confirma nem desmente. A empresa é bastante misteriosa, e as suas intenções difíceis de interpretar. A revista Business 2.0 escreveu que a Google está a comprar discretamente fibra óptica nos EUA - dando azo a especulações sobre uma "GoogleNet", uma espécie de Internet paralela da Google.
Há mais. A partir de páginas com informações algo crípticas sobre um projecto de wireless, a imprensa americana especula que a Google se prepara para oferecer acesso à Internet sem fios gratuito em hotspots na área de São Francisco - ou em toda a Califórnia - ou em todos os EUA - ou até, augurava um articulista audaz no Miami Herald, em "todo o planeta Terra" (a informação disponibilizada pela Google sobre este assunto está em wifi.google.com/faq.html).
Alguns dos planos da Google não estão no campo da especulação. A empresa lançou no final do mês passado a nova versão do Google Desktop - um programa para centralizar a organização da área de trabalho de um computador pessoal. Observadores da indústria informática entendem o Google Desktop, e outros programas lançados pela Google, como parte de uma estratégia para criar uma alternativa ao monopólio do sistema operativo Windows.
O confronto com a Microsoft tem assumido contornos curiosos - no início do mês, a Google garantiu em tribunal o direito de contratar o cientista chinês Kai-Fu Lee, "roubado" ao gigante de Bill Gates.
Maior que Harry Potter
e a Matrix
A Google pode ou não ter um plano para enfrentar a Microsoft no médio prazo. Mas não há dúvida de que é uma empresa e uma marca na moda. Google já é usado como verbo na língua inglesa; é fácil perder a conta do número de ferramentas e serviços (quase todos em fase "beta", ou seja, de testes) lançados pela firma.
A Google tem à sua volta uma aura semelhante à dos pioneiros das "dot com". Há duas semanas, a firma contratou Vint Cerf, um dos criadores da Arpanet e considerado um dos "gurus" da revolução da Internet. O título atribuído a Cerf na hierarquia da Google é 100 por cento Sillicon Valley: "Evangelista-chefe da Internet".
O problema é que muitos dos pioneiros da Internet acabaram falidos. Não será o caso da Google - a empresa dá lucro. Mesmo assim, a sua capitalização de mercado é difícil de explicar.
A Google é a empresa do ramo das comunicações mais valiosa do mundo. Vale mais que a Time Warner - que inclui televisões, revistas, estúdios de cinema, redes de distribuição e um enorme catálogo de propriedades intelectuais (por exemplo, as séries de filmes Harry Potter ou Matrix)
E vale mais que Detroit: as três grandes construtoras automóveis americanas, General Motors, Ford e Daimler Chrysler, valem em mercado respectivamente 14 mil milhões, 14,5 mil milhões e 42 mil milhões de euros. Todas juntas, menos que os 74 mil milhões da Google.
A Google dá lucro, mas mesmo esse lucro é relativamente reduzido. No primeiro semestre deste ano, registou o seu melhor resultado de sempre, 590 milhões de euros em lucros. Por comparação, a Portugal Telecom obteve quase metade desse valor no primeiro semestre de 2005, um valor que até foi inferior ao do período homólogo 2004 - e ninguém espera que a PT se torne na empresa mais importante do século XXI.
As acções da Google foram colocadas na bolsa de Nova Iorque em Agosto do ano passado, numa das ofertas públicas mais seguidas de sempre. O preço inicial era de 117 dólares; ontem, cada acção da Google valia 314 dólares. Até quando é que pode manter este ritmo de crescimento?
fonte: jornal o público